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Réveillon de Copacabana: veja fatos históricos de uma das maiores festas do mundo – 02/01/23

Agora News MS

23:36 01/01/2023

Até a década de 1980, a celebração nas areias da praia era um ritual apenas religioso. Com o tempo, vieram os fogos e os mega-shows. Em 1994, cerca de 3,5 milhões de pessoas curtiram a virada com o cantor Rod Stewart, um recorde de público. Relembre também a história trágica do Bateau Mouche.

Apresentada como o maior réveillon do mundo, a festa nas areias de Copacabana já virou uma marca do Rio de Janeiro, quase tão simbólica quanto o carnaval, o Cristo Redentor e o Maracanã.

O que começou como um encontro religioso, que marcava a resistência dos devotos de religiões de origem africana até a década de 80, se tornou um grande espetáculo de fogos, luzes, cores e emoções.

No dia em que o Rio espera mais uma virada festiva, neste sábado (31), o g1 faz uma seleção com fatos históricos do réveillon de Copacabana, relembrando o primeiro show em 1993, o recorde de público na apresentação de Rod Stewart e até notícias tristes, como o naufrágio do Bateau Mouche.

Tradição religiosa

Até o final da década de 50, a orla carioca não era um ponto de encontro tradicional para a virada de cada ano. Segundo historiadores, não era comum, na época, haver festas ou encontros na praia nessa data.

Tudo mudou no início da década de 60, quando o sacerdote do Omoloko, Tata Tancredo da Silva Pinto, decidiu realizar encontros de grupos religiosos na Praia de Copacabana, antes da chegada do ano novo. O objetivo de Tancredo era diminuir o preconceito que as religiões de origem africana sofriam na época.

Oferendas a Iemanjá no reveillon 2012 em Copacabana — Foto: Alexandre Macieira/Riotur

Oferendas a Iemanjá no reveillon 2012 em Copacabana — Foto: Alexandre Macieira/Riotur

Segundo o historiador e babalaô Ivanir dos Santos, a ideia era realizar um grande evento que pudesse atrair o público em geral e aproximar a população dos rituais da umbanda e do candomblé.

“Devido a perseguições que os cultos afros sofriam, ele passou a criar uma presença pública que pudesse atrair a população para entender essas manifestações. Tancredo passou a fazer uma convocação para que todos fossem pós-praia, no dia 31 para o dia 1, para fazer uma grande gira. Mas aquilo acabou virando uma tradição, de se vestir de branco, de se consultar com o caboclo e mandar flores para Iemanjá”, explicou Ivanir.

Com o passar do tempo, a cerimônia ganhou força na cidade, passando a atrair até mesmo aqueles que nem sempre eram praticantes dessas religiões, mas que nessa data gostavam de saudar Iemanjá, fazer oferendas e se consultar espiritualmente com caboclos e pretos velhos.

“Isso ganhou um volume muito forte, nos anos 70 e 80 cresceu muito. Virou uma referência de tradição nas praias da cidade do Rio de Janeiro. As famílias faziam a ceia e depois iam para as praias para saudar Iemanjá”, comentou Ivanir.

Queima de fogos vira atração

Com a crescente popularidade das celebrações religiosas nas areias de Copacabana no réveillon, novas tradições foram surgindo na cidade. E um costume foi ficando cada vez mais marcante entre os frequentadores: a queima de fogos de artifício.

O dia 31 de dezembro em Copacabana passou a ser um imenso laboratório de fogos de todos os tipos – até então sem muitas regras ou preocupações com a segurança.

Cascata de fogos

Uma das principais marcas dessa revolução pirotécnica foi a cascata de fogos do Hotel Meridien, localizado na Av. Atlântica.

Cascata de fogos embeleza São Conrado na virada do ano de 2021 para 2022; ideia é inspirada na cascata do Hotel Meridien

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Cascata de fogos embeleza São Conrado na virada do ano de 2021 para 2022; ideia é inspirada na cascata do Hotel Meridien

Por 21 anos, a cascata foi uma das grandes atrações do réveillon na cidade, quando os fogos eram lançados do topo do prédio de 39 andares, cobrindo toda a fachada do arranha-céu em poucos minutos. Para quem via a cena da praia, a sensação era como se o edifício sumisse diante dos fogos e da fumaça.

Porém, em 2001, por conta de um acidente sem vítimas, os bombeiros passaram a proibir o espetáculo.

Contudo, ainda na década de 1980, os comerciantes da região perceberam que o caminho para transformar a data em um evento capaz de atrair turistas do mundo todo teria que passar por um grande show de fogos.

Sendo assim, hotéis e empresários do bairro decidiram patrocinar os primeiros foguetórios no réveillon de Copacabana. A ideia deu tão certo, que a prefeitura transformou a virada em festa oficial da cidade.

Só faltava a música

Com o município organizando a queima de fogos nas areias de Copacabana, faltava ainda um detalhe: a música.

Após a festa de 1992, quando um volume gigantesco de pessoas esteve em Copacabana para acompanhar a queima, a prefeitura constatou que a maioria não tinha motivos para permanecer na praia com o fim dos fogos. O deslocamento dessa massa de gente ao mesmo tempo provocou um transtorno enorme na região.

Show de Jorge Ben Jor anima o público antes da contagem regressiva em Copacabana — Foto: Alexandre Durão / G1

Show de Jorge Ben Jor anima o público antes da contagem regressiva em Copacabana — Foto: Alexandre Durão / G1

Em 1993, o então prefeito Cesar Maia decidiu organizar alguns shows após a meia-noite para reter o público na praia e evitar o deslocamento de tanta gente ao mesmo tempo.

Foi no réveillon de 1993 para 1994 que a cidade recebeu o primeiro grande show da virada, com apresentações de Jorge Ben Jor e Tim Maia. Sucesso total.

3,5 milhões de pessoas na orla

Um ano depois, os organizadores do evento apostaram em um verdadeiro festival da virada. Cariocas e turistas não teriam apenas um dia de show na praia, mas uma semana inteira de atrações musicais.

A ideia era ter vários shows entre os dias 23 e 31 de dezembro. Com investimento de patrocinadores, o Rio de Janeiro reuniu artistas como Jorge Ben Jor, Ivan Lins, Tim Maia, Paulinho da Viola e Emílio Santiago.

Mas a grande atração daquele ano seria a apresentação do cantor escocês Rod Stewart, que subiria em um palco armado em frente ao hotel Copacabana Palace, logo após a queima de fogos.

Cerca de 3,5 milhões de pessoas viram o show de Rod Stewart em Copacabana (Imagem de arquivo) — Foto: Getty Images via BBC

Cerca de 3,5 milhões de pessoas viram o show de Rod Stewart em Copacabana (Imagem de arquivo) — Foto: Getty Images via BBC

Até hoje, o réveillon de Copacabana de 1994 foi o show com o maior número de espectadores de todos os tempos, com cerca de 3,5 milhões de pessoas na orla.

O recorde foi registrado no ‘Guinness Book’, como o maior número de pessoas da história de concertos gratuitos no mundo.

Tributo a Tom Jobim

A fórmula do sucesso para o réveillon de Copacabana já estava definida, muitos fogos e grandes artistas. Com esse roteiro pronto, em 1995, a aposta foi em um único grande show, um tributo a Tom Jobim, que havia falecido em dezembro de 1994.

O show daquele ano contou com Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Paulinho da Viola, entre outros artistas.

A festa em Copacabana estava consolidada e o público já começava a fazer planos para passar o próximo réveillon na cidade.

Acidente deixa um morto

Até o ano 2001, a estrutura para os fogos da praia de Copacabana era montada na areia, em uma área que ficava isolada para evitar acidentes. Contudo naquele ano, o modelo se mostrou ineficiente.

Um acidente na hora do lançamento dos fogos acabou provocando a morte de uma pessoa e deixou mais 48 feridos, sendo quatro em estado grave.

Segundo jornais da época, alguns dos ferimentos foram provocados por estilhaços de tubos de PVC que revestiam as bombas.

O mecânico José Maria Martins, de 44 anos, morreu após ser levado para o hospital Miguel Couto. Outras pessoas também acabaram queimadas no acidente.

A partir de então, os fogos passaram a ser lançados de balsas no mar.

Bateau Mouche

Webdoc jornalismo: Naufrágio do Bateau Mouche 4 (1988)

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Webdoc jornalismo: Naufrágio do Bateau Mouche 4 (1988)

A história do réveillon de Copacabana tem como seu capítulo mais trágico o naufrágio do Bateau Mouche, em 1988, quando 55 pessoas morreram no mar, a caminho da Praia de Copacabana, onde assistiriam à tradicional queima de fogos.

Segundo a Marinha e a Polícia Civil, Bateau Mouche IV (nome oficial) estava com excesso de passageiros e uma série de outras irregularidades, como furos no casco, escotilhas abertas e coletes salva-vidas fora do prazo de validade.

Cerca de 140 pessoas estavam no barco naquele dia. Com preço de Cz$ 150 mil (algo em torno de R$ 800), o passeio dava direito a ceia e música ao vivo, além de uma vista privilegiada para a praia.

Livro de Ivan Sant'anna mostra como deveria ter sido o trajeto do Bateau Mouche — Foto: Ivan Sant'anna

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