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`É muito decepcionante’, diz mulher de vítima do voo Rio-Paris em 2009 sobre absolvição da Airbus e Air France – 19-04

Agora News MS

7:23 19/04/2023

Queda de aeronave matou 228 pessoas. A consultora de comunicação Renata Mendonça perdeu o marido no acidente. Decisão da Justiça da França absolveu, nesta segunda-feira (17), as duas empresas.

Por Diego Haidar e Mariana Cardoso, RJ1

17/04/2023 12h58  Atualizado há 5 minutos


Renata Mendonça perdeu o marido no acidente com o voo Rio-Paris em 2009 — Foto: Reprodução/ TV Globo

Renata Mendonça perdeu o marido no acidente com o voo Rio-Paris em 2009 — Foto: Reprodução/ TV Globo

Logo depois da absolvição pela Justiça francesa da Air France e da Airbus no caso do acidente com o voo AF 447 Rio-Paris, a consultora de comunicação Renata Mendonça, que perdeu o marido, Marco Antonio Mendonça, na tragédia, desabafou.

O acidente ocorreu em junho de 2009 e matou 228 pessoas. Entre os que acompanhavam o processo na Justiça francesa nos últimos meses, a sensação era de que as empresas não seriam condenadas por homicídio involuntário. Segundo a imprensa francesa, não cabe mais recurso à decisão desta segunda-feira.

“Eu não vou dizer que estamos surpresos. A gente viu, nas audiências em Paris, em novembro do ano passado, que já dava essa pista para nós. Infelizmente, fomos cobaias, pagamos com a vida dos nossos queridos”, disse a consultora de comunicação.

Renata conta que, para as famílias, resta a convicção de que o sofrimento ajudou a mudar os protocolos de segurança dos voos.

“A própria aviação, após este acidente, implementou 12 novos regulamentos. Então, temos a comprovação de várias falhas técnicas. O que podemos dizer é que o nosso acidente serviu para ajudar e preveniu que outros acidentes viessem a acontecer. Mas é muito decepcionante. O que nos conforta é saber que esse acidente mudou a história da aviação”, disse Renata.

Air France e Airbus são absolvidas na França pela queda do voo AF 447

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Air France e Airbus são absolvidas na França pela queda do voo AF 447

Recomendações após acidente

Pouco tempo após o acidente, o Escritório de Investigações e Análise da França divulgou uma lista com novas recomendações de voo. Elas se referem à operação, certificação, transmissão de dados e informações sobre os registradores de voo.

O tribunal de Paris responsável pelo caso absolveu as duas empresas por considerar que, embora tenham cometido “falhas”, não foi possível demonstrar “nenhuma relação de causalidade” segura com o acidente.

Ou seja, a Justiça disse entender que nenhum problema técnico do avião provocou a queda da aeronave – que caiu sobre o Oceano Atlântico em 1º de junho de 2009 após passar por uma turbulência severa.

Desde então, comitês de investigação tentam achar o motivo da queda. Em 2011, investigadores franceses, com base em uma busca com submarinos, afirmaram que os pilotos responderam “com falha” a um problema envolvendo sensores de velocidade congelados.

Por conta disso, a aeronave entrou em queda livre e não conseguiu responder aos alertas de estol – quando o avião perde a capacidade de voar.

Atos de negligência e falta de certeza para responsabilizar

Ao anunciar o veredito, o juiz do tribunal criminal de Paris listou vários atos de negligência de ambas as empresas, mas disse que eles ficaram “aquém da certeza necessária para estabelecer responsabilidade firme pelo pior desastre aéreo”.

“Um provável nexo causal não é suficiente para caracterizar um delito”, disse o juiz ao tribunal lotado.

Ainda assim, a sentença destacou o debate que se gerou após a queda da aeronave sobre problemas técnicos tanto da Airbus quanto da Air France com os sistemas que geram as leituras de velocidade.

Este foi o primeiro julgamento da França por homicídio involuntário corporativo, para o qual a multa máxima é de 225 mil euros (cerca de R$ 1,21 milhão).

Ambas as empresas se declararam inocentes.

VÍDEO: Relembre a queda do voo AF 447 da Air France em 2009

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VÍDEO: Relembre a queda do voo AF 447 da Air France em 2009

Revolta de familiares

A decisão desta segunda-feira revoltou parentes das vítimas, que lutavam havia 13 anos para que o caso fosse julgado. Quando os juízes leram a decisão, familiares presentes na sessão choraram e manifestaram revolta.

Antes da leitura da sentença desta segunda, a própria Promotoria da França, que fez a acusação contra a Airbus e a Air France, disse que não havia provas suficientes para culpar as duas empresas. A posição do Ministério Público também revoltou os parentes das vítimas.

Posição das empresas

Após o julgamento, a Air France disse, em nota, se solidarizar com os parentes das vítimas.

“A empresa sempre lembrará a memória das vítimas deste terrível acidente e expressa sua mais profunda compaixão a todos os seus entes queridos”, disse o comunicado.

A Airbus também manifestou solidariedade, mas, em nota, chamou a decisão de “congruente”.

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