Azul domina campanha a prefeito de SP; intenção é passar seriedade com a cor ‘mais institucional de todas’, diz especialista
11:21 02/09/2024
Professora titular de semiótica da USP analisou Instagram e materiais de campanha encaminhados ao g1 pelos candidatos.
A cidade de São Paulo tem dez candidatos na disputa para comandar a cidade pelos próximos quatro anos. Nas campanhas de cinco deles, que aparecem à frente das pesquisas eleitorais, o uso do azul é predominante na identidade visual.
Veja abaixo as paletas e os símbolos usados por Datena (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSDB). Nesta reportagem, os candidatos aparecem na ordem em que estão divulgados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Edições com memes, uso de acessórios nas ruas, cortes de vídeos de falas fora de contexto que inundam as redes, roupa social, trilha sonora e artes coloridas ajudam nas estratégias de cada um. Três deles usam os números da urna em amarelo.
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Clotilde Perez, professora titular de semiótica da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, verificou imagens no Instagram e o material de campanha encaminhado ao g1 pelas equipes dos candidatos.
Nas eleições ao governo do estado, em 2022, o g1 observou que, entre os três candidatos que estavam à frente das pesquisas, o verde e amarelo predominavam nas artes. Já no pleito municipal deste ano na capital paulista, todos os verificados usam azul.
Marilda Paula Silveira, professora de direito eleitoral, explica que a legislação não regula diretamente o uso de cores na campanha.
“Não ignora seu impacto na formação da vontade e, por isso, tem-se considerado ilícito o uso de cores partidárias em bens públicos durante o período eleitoral que pode acabar confundindo o eleitor na separação do público/privado.”
A especialista também pontua que, embora seja permitido o uso de símbolos nacionais, como a bandeira e suas cores, não se pode desrespeitá-los.
“Só é vedado na propaganda se for alterado. E a lei que regulamenta o uso da bandeira só veda o uso comercial: ‘Art. 27. É vedado o uso parcial ou integral da Bandeira Nacional, das Armas Nacionais ou do Selo Nacional nos rótulos ou invólucros de produtos expostos à venda e bem assim na propaganda ou qualquer outro ato ou expediente de natureza comercial ou industrial’.”
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A influência das cores
Perfis dos cinco candidatos que aparecem à frente das pesquisas — Foto: Reprodução
🔵 Segundo Clotilde Perez, o azul é uma cor que não carrega a “ambiguidade” que o verde e amarelo desenvolveram nos últimos anos, com a polarização política.
“O azul, principalmente em tonalidades variadas e não óbvias, é mais seguro, além de trazer ótimo contraste com cores quentes: amarelo, vermelho, o pink. A cor azul, por ser a mais institucional de todas, é sempre uma escolha certa porque traz seriedade, compromisso e vínculo.”
🟡A professora de semiótica afirma que a cor amarela carrega potência energética, é vibrante e tem a função de se destacar do conjunto cromático.
“Se conecta à riqueza e nobreza em função da luminosidade contida nas tonalidades mais intensas, ouro. Também é a cor dos inícios, amanhecer, sol se abrindo. Tem fortes associações com calor, sol.”
Veja abaixo a análise seguindo a ordem alfabética do nome de urna, usada pelo TSE:
Datena
Paleta de cores de Datena — Foto: Reprodução
Ex-locutor e atual apresentador de programas policiais, Datena se filiou ao PSDB no fim da janela partidária, em 4 de abril deste ano, e usa tons de azul, amarelo e branco. Antes, ele estava no PSB e era cotado para ser vice de Tabata na corrida municipal.
“O candidato se basta. Linguagem popular, direta e, às vezes, rude. Candidato se apresenta de forma clássica com certa austeridade: camisa branca, paletó escuro. O olhar frontal e os dedos que apontam transmitem segurança, certa autoridade e força. Bom comunicador, explora essa experiência em ambiências livres, no entanto, se desarticula em contextos regrados”, diz Clotilde.
“As explorações de signos cromáticos se sustentam na sobriedade das tonalidades de cinza (ecos visuais dos cabelos grisalhos)”, completa Clotilde.
Artes de Datena — Foto: Reprodução
Guilherme Boulos
Guilherme Boulos aparece em fotos ao lado da vice — Foto: Reprodução
A campanha do deputado federal com a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) usa a imagem da dupla nas artes e explora a cor rosa, caminhando à púrpura e ao vermelho. A paleta tem traços semelhantes à usada por Fernando Haddad na eleição ao governo paulista de 2022.
“A ambiência cromática é a mais feminina e acolhedora de todas as campanhas. É a única que mobiliza os recursos do degradê e da movimentação cromática para construir alguma complexidade visual e reforçar o caminho da inovação e da contemporaneidade. As cores rosa/púrpura e mesmo as tonalidades mais claras e brilhantes da cor vermelha carregam os signos da ambiência digital e o futurismo atualizado do século XXI”, diz Clotilde.
“Os códigos afetivos (abraço) são sobrepostos pela força estética do coração que ‘abraça’ Boulos e Marta, mas que se mantém aberto na subjetividade de que ‘cabem mais’. O coração se mostra também em movimento (de cores e formas) e aberto, implicando diversidade e inclusão.”
Já o jingle lançado por Boulos é uma adaptação da música “Tá Escrito”, que ficou famosa com o Grupo Revelação.
Aplicação da marca de Boulos e Marta — Foto: Reprodução
Pablo Marçal
Perfil novo de Pablo Marçal — Foto: Reprodução
A equipe de Marçal não enviou ao g1 o manual de campanha. Desta forma, uma rede social dele e uma arte em que aparece com a vice no plano de governo foram usadas na análise. Em 24 de agosto, a Justiça Eleitoral determinou a suspensão temporária dos perfis em redes sociais de Pablo Marçal usados para monetização.
O empresário e mentor usa uma “linguagem de autoridade” e os números da urna ficam sobrepostos na cor amarela com azul ao fundo, comenta a especialista.
“Explora a ‘cartilha’ do coaching, centrada na formatação e midiatização de convicções, tem comportamento seguro e altivo. Em certa medida, idiotiza a audiência com explicações apoiadas em cartas, objetos lúdicos, como se precisasse concretizar para ser entendido”, comenta a professora de semiótica.
“Centra discurso em parâmetros tradicionais/conservadores, quando não antiquados. Os signos cromáticos explorados nos materiais de campanha são as modalizações tonais da cor azul. O slogan ‘faz o M’ reforça a posição egóica e narcisista.”
O candidato do PRTB não divulgou um jingle oficial, apenas duas músicas feitas por apoiadores em suas redes sociais.
Arte no plano de governo de Pablo Marçal — Foto: Reprodução
Ricardo Nunes
Paleta Ricardo Nunes — Foto: Reprodução
O atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, é candidato à reeleição e usa uma paleta relacionada às cores nacionais. O candidato explora as tonalidades parecidas com as usadas por seu apoiador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas eleições de 2022, quando venceu a disputa pelo governo paulista.
“O destaque está na exploração das cores nacionais, principalmente nos duplos cromáticos verde/amarelo e azul/branco que ambientam as diferentes peças, nas distintas mídias. A identidade visual da campanha busca imprimir força: R em letra maiúscula, bold e estável. E brasilidade clássica: R branco sobre as cores azul, amarela e verde.”
“Linguagem se esforça pela simplicidade, mas os contextos (autódromo, avenidas…) e conteúdos ficam dissonantes em muitas situações”, menciona a especialista, que complementa: “O candidato a vice não é muito explorado midiaticamente.”
No jingle, o g1 mostrou que Nunes apostou no samba, mas em um estilo mais próximo dos enredos das escolas de samba de São Paulo.
Arte de Ricardo Nunes com o vice — Foto: Reprodução
Tabata Amaral
Paleta de Tabata Amaral — Foto: Reprodução
Sexta deputada federal mais votada do estado de São Paulo nas eleições de 2018, Tabata Amaral tem 30 anos e é formada em ciências políticas pelo Departamento de Governo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
O g1 pediu à equipe da candidata o manual da marca da campanha, mas foi encaminhado o site oficial para que fosse usado como exemplo.
“Utiliza códigos clássicos de vestimenta, cores sóbrias e lisas, sem estampas ou apliques, calça, camisa e blazer, correntinha de ouro, brincos pequenos e, vez por outra, colar de pérolas simples. Constrói uma imagem de mulher jovem refinada e ‘institucionalizada’ (bem-educada, culta, autônoma)”, afirma a especialista.
A linguagem busca proximidade e a paleta cromática da campanha é um “mix de familiaridade clássica” com o azul escuro, afirma Clotilde.
“Com a inovação das cores laranja e verde em tonalidade cítrica, a cor laranja carrega os sentidos de intensidade e força, surpresa, irreverência e ousadia, daí suas frequentes associações ao futuro e à jovialidade. O slogan ‘chegou a vez da periferia’ parece um tanto deslocado. Ainda que a candidata tenha origem humilde, estar no segundo mandato como deputada e namorar o prefeito de Recife a distanciam de sua jornada de ‘heroína’, que impõe esforço e superação.”
Perfil de Tabata Amaral — Foto: Reprodução
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