Agora na Copa, Rodrygo lembra da infância: “Corria com camisa falsa do Brasil e moicano do Neymar”
11:19 23/11/2022
Às vésperas da primeira Copa da carreira, atacante é entrevistado pelo Players Tribune; papo tem memórias da base do Santos, recordações de eliminações da Seleção e relação com o pai
Um dia antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo, contra a Sérvia, nesta quinta-feira, às 16h de Brasília, Rodrygo publicou um texto no “The Players Tribune” no qual lembra a infância, os ensinamentos do pai e a carreira em Santos, Real Madrid e Seleção. Ao lembrar da primeira convocação, o atacante revelou que estava dormindo quando foi chamado por Tite.
– Eu estava em casa, dormindo no andar de cima, e alguns amigos assistiam ao anúncio (da convocação) na sala. Os meus pais tinham saído para buscar a minha irmã mais nova. De repente, ouvi um grito de comemoração. Voltei a dormir. Meu telefone começou a tocar, era meu pai avisando.
– Abracei os meus amigos. Quando os meus pais chegaram, fizemos uma grande comemoração. Dá pra acreditar? Na minha primeira convocação, eu estava dormindo – brincou Rodrygo.
O atacante do Real Madrid revelou que na primeira Copa que acompanhou, em 2006, chorou com a eliminação para a França, disse que prefere não lembrar de 2014 e lamentou demais a eliminação na Copa de 2018.
– Eu nunca mais quero sentir o que vivi na derrota para a Bélgica em 2018. Depois do jogo, mandei uma mensagem para o meu pai. “Agora preciso treinar ainda mais, porque na próxima Copa eu vou estar lá”.
– As palavras são poderosas. Cara, eu sou a prova viva disso. Nesta Copa, eu estarei lá e me vejo decidindo jogos para a Seleção – completou Rodrygo.
Rodrygo, chegada da seleção brasileira em Doha, no Catar — Foto: REUTERS/Amr Abdallah Dalsh
A entrevista conta com relatos do jogador, do pai do atacante, Eric Goes, e do técnico dele na base santista, que lembrou da chegada do garoto à base santista.
– Ele era um absurdo. No futsal, acredito que ele era melhor do que o Neymar. Canetas, pedaladas, chapéus… era obsceno. Nosso time foi campeão três vezes do Campeonato Paulista Sub-11. Quando o Rodrygo era puxado para jogar em categorias acima da dele, os diretores pediam para eu acompanhá-lo. Nos sete anos que trabalhamos juntos, eu passei mais tempo com o Rodrygo do que com os meus próprios filhos – afirmou o treinador Luciano.
+ Leia mais sobre a Seleção na CopaTodo mundo falava das gerações do passado: Pelé, Neymar, Robinho, Ganso… naquele momento eles passaram a dizer que eu era um raio, o último a cair no Santos. “— Rodrygo, sobre o início da trajetória no Santos
Em seus primeiros momentos no futebol, Rodrygo teve como árbitro dos jogos o próprio pai. Ao lembrar das primeiras peladas em São Caetano, em São Paulo, o pai era o goleiro e o árbitro das partidas entre a garotada.
– Eu driblava um menino, me derrubavam, ele falava “segue o jogo”. Eu marcava um gol, ele anulava. Até a minha mãe ficava brava com ele! “Fizeram falta nele, por que você não deu?”. O meu pai respondia com tranquilidade. “Relaxa, eu sei o que eu estou fazendo” – lembrou Rodrygo.
Rodrygo e o pai, Eric Goes, ainda no Santos — Foto: Reprodução
O atacante do Real Madrid lembrou que o pai pediu até para a mãe de Rodrygo “segurar” mais o bebê dentro da barriga, tudo isso para ele nascer no ano seguinte. Eric tinha 16 anos e já queria que o filho fosse jogador de futebol. Deu certo: em vez de nascer no dia 25 de dezembro de 2000, Rodrygo veio ao mundo no dia 9 de janeiro de 2001.
– Naquele dia 25, eu falei para a minha esposa, Denise. “Pelo amor de Deus, não deixe o parto acontecer agora”. Eu tinha 16 anos, estava no começo da minha carreira, e eu sabia que se ele nascesse em dezembro, ele seria o mais novo da categoria, e os meninos nascidos em janeiro do mesmo ano seriam quase um ano mais velho do que ele. Para um garoto tentando se destacar, isso é um desastre – recordou Eric, pai do jogador.
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Rodrygo ouviu os conselhos do pai desde cedo. Uma das dicas que mais marcou o jogador foi a de entender “o peso das palavras”, então o atacante repetia os sonhos para ele mesmo – entre eles, o de disputar a Copa do Mundo pela Seleção e jogar um dia pelo Real Madrid.
– O meu pai sempre disse que as palavras são poderosas. Eu tinha muitos sonhos na infância – cara, eu amava sonhar. Então, eu repetia as mesmas coisas para mim mesmo. Eu vou jogar pela Seleção Brasileira. Eu corria pela casa com uma camisa falsa do Brasil e o moicano do Neymar.
– Eu vou jogar no Real Madrid. Quando eu tinha 10 anos, o tema da minha festa de aniversário foi “Rodrygo Real Madrid”. Eu vou ser campeão da Champions League. O auge das competições de clubes. Eu vou disputar uma Copa do Mundo. O auge do futebol e ponto final – lembrou Rodrygo.
Rodrygo em treino da Seleção — Foto: Lucas Figueiredo / CBF
Rodrygo e o pai sempre foram muito próximos. Além de pai e filho, tinham uma relação de jogador e treinador, jogador e árbitro, e, sobretudo, amigos. No entanto, em 2012, os dois tiveram que se afastar para o pai continuar a carreira, enquanto o filho começava a sua no Santos.
– Eu tinha 27 anos, então eu precisei continuar jogando para conseguir sustentar a família. Embora Rodrygo e eu fôssemos muito próximos, nos cinco anos seguintes quase não nos vimos. Ele vinha ficar comigo nas férias, e quando chegava a hora de voltar, ele não queria. Nem mesmo para treinar –lembrou o pai.
– Essa fase parecia uma eternidade. Eu tinha esse sonho de que estaríamos sempre juntos, mas durante a minha adolescência eu morei praticamente apenas com a minha mãe. Claro que eu entendia a responsabilidade dele de colocar a comida na mesa. Os meus pais me diziam que aquele sacrifício valeria a pena – afirmou Rodrygo, ao lembrar das despedidas do pai.
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