Bolsonaro se queixa a aliados de depoimentos de militares que o vinculam a golpe e vê discurso de ‘perseguição’ se diluir
13:27 25/11/2024
Relatório da PF entregue ontem à PGR afirma que ex-presidente ‘planejou, atuou e teve domínio de forma direta e efetiva’ de planos golpistas
Por Gabriel Sabóia
— BRASÍLIA
27/11/2024 04h00 Atualizado há 9 minutos
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Indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se queixou a aliados de um ponto específico do relatório final da investigação: os depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas que relataram terem sido procurados pelo ex-mandatário para aderirem a um plano de ruptura democrática. O ex-chefe do Palácio do Planalto, de acordo com interlocutores, avalia que sua imagem com os militares pode sair prejudicada.
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Bolsonaro tem dito que nunca participou de negociações golpistas, mas vê o discurso de “perseguição política” se diluir, dizem pessoas próximas.
O depoimento de militares que o apontam como articulador do golpe, na avaliação desses interlocutores, colocam Bolsonaro em posição oposta a membros das Forças Armadas, que compõem parte importante do seu eleitorado e seguem sendo vistos como “aliados” do capitão reformado.
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A investigação, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), teve como um dos principais eixos condutores os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior. Eles relataram terem se reunido no Palácio da Alvorada com Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa.
Na ocasião, o ex-mandatário, segundo o inquérito, apresentou um documento que previa as hipóteses de instaurar Estado de defesa ou de sítio, além de dar início a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A minuta golpista seria o primeiro passo para impedir a posse de Lula, de acordo com a investigação.
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Nesta segunda, Bolsonaro disse nunca ter tocado no tema com aliados, se disse perseguido por levantar a bandeira conservadora e admitiu a possibilidade de prisão, com base no discurso de “perseguição”.
— Nunca debati golpe com ninguém. Se alguém viesse falar de golpe comigo, eu perguntaria: “E o day after? Como a gente fica perante o mundo?”. A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário. Jamais faria algo fora das quatro linhas da Constituição. Dá pra resolver tudo nas quatro linhas — afirmou o ex-presidente ao desembarcar em Brasília após uma temporada em Alagoas.
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Questionado se temia ser preso por causa das investigações, o presidente afirmou que pode ser detido a qualquer momento. Na semana passada, a PF deteve quatro generais e um agente da própria polícia federal suspeitos de tramar um golpe.
— Eu posso ser preso agora, ao sair daqui (do aeroporto) —disse.
O ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes disse em depoimento que se opôs aos planos golpistas de Bolsonaro. Ele relatou que foram apresentadas a ele duas versões da minuta do golpe pelo próprio ex-presidente e por Nogueira, avisando que aquilo tinha que ser implementado. O comandante implicou diretamente o ex-presidente na tentativa de golpe.
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“Em outra reunião no Palácio da Alvorada, em data em que não se recorda, o então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação da comissão de regularidade eleitoral para ‘apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral'”, diz o registro da oitiva de Freire Gomes à PF.
Bolsonaro também teria chamado reservadamente no Alvorada o general Estevam Theophilo, comandante do Coter — comando das Operações Terrestres — com o intuito de mostrar o “firme propósito de implementar o que estava escrito”. O general Theophilo disse que foi à reunião no palácio a mando de Freire Gomes. Contudo, Freire Gomes não confirmou essa informação e disse que a ordem não partiu dele.
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O general afirmou ainda à PF que se manifestou contra qualquer ação que impedisse a posse de Lula tanto diante de Bolsonaro como no Ministério da Defesa, em discussões reservadas com generais sobre o assunto.Assim como Freire Gomes, o tenente-brigadeiro Baptista Jr, que ocupou o cargo de comandante da Aeronáutica, também viu as duas versões da minuta do golpe, conforme revelou no depoimento para a PF – e afirmou que, se não fosse a recusa do comandante do Exército, o golpe provavelmente teria ocorrido.
“Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta do decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante respondeu que sim; que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente a tentativa de Golpe de Estado teria se consumado”, afirma o registro do depoimento.Ainda de acordo com o depoimento do ex-comandante da Aeronáutica, Bolsonaro teria sido alertado por ele que, se continuasse com a tentativa de golpe de Estado, teria que ser preso por ele.”Em uma das reuniões dos comandantes das Forças com o então presidente após o segundo turno das eleições, depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de institutos previstos na Constituição (GLO [Garantia da Lei e da Ordem], ou estado de defesa, ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”, relatou.
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